História
As origens da freguesia de Forjães
Situada no vale inferior do Rio Neiva, Forjães é uma terra de fronteira. A Norte, o rio separa-a, em parte, da freguesia de Alvarães, do distrito de Viana do Castelo; a Nascente e Sudeste são as freguesias de Fragoso, Aldreu e Palme que lhe recordam que, em era não muito distantes, também ela já fez parte do concelho de Barcelos (1). A Poente esta a freguesia de S. Paio de Antas, para Sul, no planalto estende-se a freguesia de Vila Chã.
Do ponto de vista geográfico, pode-se dizer que se trata de uma povoação com poucos acidentes orográficos. Mais montanhosa na parte meridional e a Sudeste, perde gradual agressividade a medida que se aproxima das margens do Rio Neiva ou dos Ribeiros de Pias/Aldeia e do Chouso. São estes, alias, os mais importantes cursos de água da freguesia, mas se lhes juntarmos as linhas de água menores, algumas das quais alimentam fontes e poças de rega, fácil e de ver que o quadro hidrográfico da vila de Forjães é bastante expressivo e completo.
Com uma população, que no censo de 1991 se estimava em 2482 habitantes, (2) na actualidade reparte a sua actividade pela agricultura e pela indústria. A primeira, aquela que ocupa ainda uma boa parte da população activa, está orientada para as tradicionais culturas minhotas, nomeadamente o milho, o feijão, a batata, o vinho e a pecuária. A segunda é constituída basicamente pelos têxteis e confecções, vectores económicos em franca ascenção, pelas cerâmicas, metalurgia, construção civil e industrias afins que se distribuem, em grande parte, pela zona industrial de S. Romão de Neiva-Alvarães, pertencente ao concelho e distrito de Viana do Castelo. Quanto aos fabricos tradicionais, nomeadamente as cestas de junco e as mantas de farrapos (Almeida, 1978), têm vindo paulatinamente a extinguir-se, a pontos de serem, no momento, meras actividades residuais.
Ao contrário das freguesias circunvizinhas, os vestígios do passado, sendo aqui mais ténues, não são, por causa disso, de menor importância histórico-arqueológica.
Os vestígios arqueológicos mais antigos dizem respeito a um instrumento lítico encontrado no lugar de Monte Branco e ao menhir da Bouça dos Marcos, uma propriedade que se encontra numa das extremas do lugar da Infia.(…)
O menhir encontra-se, conjuntamente com outros símbolos pétreos, na Bouça dos Marcos, sítio onde se estabelece a divisão administrativa entre as freguesias de Forjães e S. Romão de Neiva e os concelhos e distritos de Braga e Viana do Castelo. (…)
Este foi sem dúvida nenhuma o primitivo marco que serviu de divisão entre as duas freguesias. Posteriormente, em 1814, foi ai colocado um novo, aquele que, para além de tal data, mostra também as iniciais S R, que querem dizer, precisamente, São Romão (de Neiva). (…)
Que o menhir é uma representação escultórico-cultual do período megalítico ninguém duvida, como pacíficas são as relações entre o topónimo Madorra (3) e os possíveis enterramentos, em mámuas, daquela altura.(…)
Se as ocupações na Idade do Ferro, isto é, os castros, estão ausentes daqui, é porque não havia condições propícias à sua implantação (5), mas a tardo-romana e a visigótica, essas estão bem explicitas em Tresseleiros e em torno da igreja paroquial.
Em Tresseleiros – assim são apelidados os campos situados a Poente do Bacelo, o sítio onde actualmente está a bomba de gasolina da CEPSA – têm aparecido bocados de tegulae (Almeida, 1989, 91-92) ou mais especificamente, fragmentos de telhas, que desde época romana até quase ao fim da Alta Idade Média, foram usadas na cobertura das casas e na construção de certo tipo de sepulturas.
Muito mais consistentes são os restos arqueológicos adjacentes a igreja paroquial. Apareceram nas obras, que anos atrás mudaram o rosto do adro. Tem aparecido no campo do Pereiro e no espaço que rodeia a casa do Prof. Mário Vilaverde e ciclicamente têm vindo a mostrar-se no quintal da residência paroquial. Encontram-se, também, na berma do caminho da Coturela, no ponto em que este separa o Testado do quintal da residência paroquial. Mas mais importante que os sítios por onde se dispersam, e a sua própria natureza e cronologia que, no caso vertente, mais contam. (…)
Atendendo à natureza e cronologia dos vestígios, torna-se claro, que foi neste espaço que nasceu uma das primeiras ocupações rurais da freguesia. Foi no interior da primitiva comunidade cristã que foi erguida a primeira igreja dedicada à Santa Marinha, a virgem e mártir de Antioquia, cujo culto começou a propalar-se pela Península Ibérica, por volta do séc. VII (Garcia Rodriguez, 1966,171). São precisamente atribuíveis a este século as cerâmicas de tradição merovíngia, com cruciformes impressos, aparecidas no adro, como o são outras detectadas na altura em que se procedeu alargamento da Av. Santa Marinha. Por todas as razões, mais aquelas que estão reflectidas nas mos manuais usadas na trituração de cereais, é mais que credível que nesta minúscula colina, bem no centro de um amplo espaço, cujas potencialidades agro-pecuárias são bem notórias, se instalaram agricultores cujos descendentes haveriam de promover a construção da futura ecclesia sancta marina (PMH, Dipl. et Chart., doc. CCCCXX).
Para alem da colonização do espaço agrário da futura Sancta Marina, onde subsistem ainda topónimos cujas origens poderão remontar ao período suevo-visigótico – Vegide, Mende, Freiria – outros houve no aro da freguesia, nomeadamente Ramalde, Savariz (AN. T .T ., 0166 – Inquirições de D. Dinis, 1.3, Casa Forte, fl.7V.) e Gonçar (lugar do Matinho), também eles com uma filiação bem germânica. No caso específico de Ramalde, as provas de uma ocupação tão remota, como acontece na colina onde foi construído o primeiro templo dedicado a Santa Marinha, são muito menos evidentes, embora saibamos que restos cerâmicos, com aparência de romanos, apareceram em certos sítios de Ramalde.
Uma análise mais criteriosa a tais vestígios mostra que a sua romanidade é, no mínimo, forçada, mas não qualquer hipótese cronológica que os aproxime do começo da Reconquista. A tradição, por exemplo, defende que aqui floresceu um dos núcleos agrícolas fundadores daquela, que séculos mais tarde seria a futura freguesia de Santa Marinha de Forjães. O problema é que ele nunca viria a tingir a projecção socio-económica dos núcleo de Sancta Marina e da villa Frogiaes, essa geograficamente mais para Nascente, para o espaço que no presente se reparte pelos lugares da Aldeia e do Souto.
Ultrapassado o período da dominação visigótica, pouco ou nada sabemos do que ocorreu depois com a ocupação árabe, com a pirataria normanda e com a presúria cristã. Cada um deles, a sua maneira, aos povos da região, mormente aos da faixa litoral, criaram situações dramáticas, por vezes, porque não dizê-lo, insustentáveis.
A faixa litoral, na qual Forjães se insere, sem ficar verdadeiramente ermada (6), entre o século VIII e o X, terá sofrido verdadeiras razias. (…)
A falta de documentos escritos, é a arqueologia que nos dá indicações à cerca do que se terá passado nesta região, por altura da invasão muçulmana. (…)
Apesar das pressões e das dificuldades, nunca a população abandonou totalmente a região, tornando-a assim terra de ninguém. Comunidades religiosas existiam nesta região. Prova-o a sagração da igreja de Castelo de Neiva ao apóstolo S. Tiago, muito provavelmente no ano de 862, de acordo com uma inscrição aí encontrada (Costa, 1958, 119) e a documentação da época que cita comunidades em Fão, em Quintela e Argivai, estas duas localidades pertencentes ao concelho da Póvoa de Varzim (Dipl. et Chart, doc. LXVII e doc. LXXII). A esta lista e natural que juntemos também a freguesia de Forjães, de acordo com as provas arqueológicas recentemente encontradas junto da igreja paroquial. Aqui vivia já uma pequena comunidade, pelo menos desde o Século VII. A dificuldade esta somente em sabermos se seriam Cristãos e se teriam escolhido a virgem de Antioquia como padroeira.
O dia a dia destas comunidades seria bem difícil, sem lei nem autoridade que as protegesse (Sampaio, 1979, 48), fugindo ao menor sinal de perigo para os antigos povoados castrejos ou para sítios de difícil acesso, situados entre matagais e altas penedias. Aqui, em Forjães, não são conhecidos, mas tais refúgios são conhecidos no monte do Castelo de Neiva, no Monte Crasto de Palme, no Castro de S. Lourenço de Vila Chã e ao longo da escarpada e granítica arriba que margina a orla litoral entre os rios Cávado e Neiva.
Foi também por aquela altura que os presores cristãos, na sua caminhada para Sul, introduziram uma nova nomenclatura na toponímia local. Não foi em todos os casos, mas algumas das villae e mesmo explorações agrícolas de menor peso sócio-económico passaram a usar o nome dos novos proprietários (Sampaio, 1979, 48). A dificuldade esta precisamente em distinguir, no presente, entre os novos e os antigos topónimos de ascendência germânica.
É certamente uma situação deste tipo, a que se documenta em Forjães (Piel, 1945 ; Fernandes, 1983, 180-183), nas zonas da freguesia que, à altura dos acontecimentos, eram mais aptas para as práticas agro-pastoris. Muito provavelmente eram espaços não ermados, que de uma maneira objectiva cativaram presores de origem galaico-asturiana, de tal modo que se instalaram naqueles sítios que presumivelmente ainda conservam nomes derivados do germânico, sobretudo naqueles que mostram não haver sintomas ocupacionais anteriores à Reconquista.
Parece ser este o caso de Gonçar, de Freiria, de Vegide, de Mende e na parte ocidental da freguesia, de Forjães, espaço, que no início do Século XII, a documentação designava por villa Froganes (Liber Fidei, doc. 383).
Confrontados com o documento de 1059, no qual unicamente se menciona a ecclesia vocabulo sancta marina (Dipl. et Chart. doc. CCCCXX) e num outro mais recente, datado de 1113, este a fazer referência a uma villa Froganes (Liber Fidei, doc. 383), restam-nos, como fonte documental mais consistente, as Inquirições da segunda metade do século XIII. É nelas que temos de beber os dados capazes de ajudarem a reconstituir o quadro formativo da freguesia, durante os primeiros séculos da sua existência.
Parece ser indesmentível que os primitivos núcleos populacionais da freguesia se situavam em redor da actual igreja paroquial -sancta marina -em Ramalde e em Forjães, que no caso específico e na actualidade corresponde aos lugares da Aldeia, do Souto, aos quais se poderá juntar ainda, certamente, o lugar do Boucinho.
A prova documental está Inquirições de 1258. Nelas citam-se três antropónimos que aparecem associados a outros tantos nomes de lugares que ainda subsistem no presente, à excepção de sancta marina, que mais não é que o actual lugar da Igreja: “Petrus Pelaiz de Frogiaes, Pelagius Bonus de sancta Marina e Petrus Fernandi de Ramaldi”.
À data da elaboração das Inquirições, tais lugares parecem já ser núcleos agro-urbanos estruturalmente bem definidos, pelo que é necessário procurar a formação da paróquia em data bem anterior a 1113. Esta ignorámo-la, como desconhecemos se estes e outros prováveis núcleos, obviamente não mencionado no texto, aos quais será necessário ainda acrescentar os casais dispersos, têm origens cronologicamente coincidentes. O povoamento, até aí incipiente, causticado pelas devastações de um período altamente conturbado, alterou-se com a Reconquista Cristã. Com ela, o início da ocupação intensiva destes sítios deve ter começado pelo século X, altura em que foram alicerçadas as primeiras bases comunitárias que se foram solidificando ao longo do Século XI (Almeida,1981, 202-212).
Estes núcleos habitacionais, não necessariamente concentrados, aos quais poderemos chamar, muito justamente, de villae-ecclesiae, distribuíam-se por espaços, geograficamente definidos, mas cujos limites dificilmente poderemos reconstituir.
Um dos núcleos habitacionais que primeiro se estruturou, sem dúvida que foi o que se situa em torno da actual igreja paroquial. Foi aqui que nasceu a villa- ecclesia de sancta marina, a mesma que em termos geográficos, mas com ligeiras discrepâncias, corresponderá ao couto que aqui foi instituído pelo rei D. Sancho I. Por outras palavras, a villa-ecclesia sancta marina corresponderia à parte central e oriental da freguesia, isto é, ao espaço actualmente pertencente aos lugares da Igreja, Pregais, Freiria e possivelmente Além do Ribeiro, caso a linha de água que é o Ribeiro do Chouso não fosse o seu limite ocidental. Desta altura não restam habitações, nem nada que a primeira vista possa ser imputado a igreja que aqui existia. É certo que há fragmentos cerâmicos que se podem assacar, com sérias reservas, a época da Reconquista, mas não sabemos como eram as habitações e muito menos, o seu número. A única certeza é que as habitações de então, tal como as actuais, estariam dispersas pelo espaço agrícola, alias numa tradição que já tinha séculos de existência, desde os primeiros momentos da ocupação romana. Idênticas dificuldades sentimos em relação à exacta localização da igreja de então instalada no espaço da actual. Substituída por uma outra, cujos vestígios foram incorporados nas paredes da actual, conserva, como único provável testemunho, um túmulo monolítico, em granito, com uma tampa decorada em estola. A estar correcta a cronologia que normalmente é atribuída -séc. IX –XI (Barroca,1987) -então este túmulo é um dos raros documentos, daqueles que é capaz de justificar que aqui se vivia e morria no momento em que as villae- ecclesiae iniciavam o movimento unificador que conduziu a formação da paróquia e freguesia de Forjães.
Menor importância e expressão deverá ter tido Ramalde – Petrus Fernandi de Ramaldi -até há poucos anos um lugar praticamente despovoado.
Com uma extensa área agrícola considerável, era todavia pouco convidativa a um povoamento mais consistente devido a humidade dos solos e à sucessão de bosques e soutos que a toponímia actual ainda conserva sob a forma de Matinho e Souto do Preto. Se excluirmos os fragmentos cerâmicos que aparecem em terrenos próximos de Tresseleiros, a de pedra de construção espalhada e pelos muros que separam as propriedades e uma pia, que a tradição sustenta ter carácter religioso, resta-nos a “vox populi”, que se alicerça na firme convicção de que em Ramalde terá havido uma igreja e uma casa paroquial. Nada, no entanto, há nestes vestígios arqueológicos que justifique uma tal convicção. Eles podem provir, muito bem, de uma mera casa de lavoura, talvez a única que existia nestas paragens, um pouco a imagem do que acontecia noutros pontos da freguesia e nesta região de povoamento tipicamente disperso. Um outro sítio da freguesia onde não foi ainda possível vislumbrar vestígios cronologicamente anteriores a Reconquista cristã, é o espaço onde nasceu e se estruturou a villa Froganes, que nos aparece citada num documento de 1113. Nele se diz que Mido Ermiges, juntamente com a sua mulher, trocavam com a Sé de Braga uma propriedade que tinham em Rebordões (Barcelos) por uma outra localizada em Forjães: “et accepimus ad vobis aliam hereditatem in villa Froganes que dedit illam Vita Nunu vobis archiepiscopo” (Liber Fidei, doc. 383). Implantada no epicentro de um vasto território agrícola, que na actualidade é parte integrante dos lugares da Aldeia e do Souto, conserva, como únicos documentos, dois topónimos: Fonte de Forjães e Agra de Forjães.
A fonte de Forjães está situada no lugar do Souto, na berma da antiga estrada real Barcelos – Viana do Castelo, que no presente, tem por designação oficial o nome de Rua do Souto.
A Agra de Forjães essa está situada nas imediações desta fonte, a mesma, que ao longo da sua multissecular existência, serviu gerações de moradores e de viajantes. O seu espaço de intervenção é amplo e abarca uma sucessão de terrenos agrícolas que associam a qualidade, a exposição solar, a irrigação e a facilidade de circulação nos caminhos vicinais. No seu aro não faltavam os soutos, atestados pela toponímia actual -Souto (lugar), Souto de S. Roque, Carvalhal – e as zonas de mato a fazer fé como topónimos como Boucinho. (…)
Durante o século XI e parte do XII assistiu-se no Entre-Douro-e-Minho ao consolidar das estruturas paroquiais. Os muitos núcleos de vizinhos espalhados pelo aro minhoto, já haviam intuído que o seu futuro só poderia ser fortalecido e dignificado no seio de comunidades estáveis. Tinham, por isso mesmo, de comungar dos mesmos anseios e de fazer jus aos mesmos princípios.
Como paróquia medieval que era, Forjães estruturou-se num espaço geográfico bem definido pelo modelado dos montes circundantes e pelo Rio Neiva, que é praticamente fronteira, lá mais para Norte. Neste espaço, com dezena e meia de quilómetros quadrados, distribuíram-se os agricultores, por entre soutos de carvalhos e talvez também de castanheiros, agras, veigas, matos e linhares.(…)
Com a unificação, o pequeno templo de sancta marina passou a servir um maior número de fiéis, motivo que terá levado à sua modificação ou, porque não, numa ampliação. (…)
A paróquia de Forjães de então, não podia fugir, como não se esquivou à regra. As casas de lavoura e os casais, de escassas dimensões e possibilidades, que estavam dispersos pelo ager, uniram-se em torno das comunidades que então major solidez e coesão ofereciam. A villa Froganes aparece mencionada num documento de 1113, como sendo uma herdade da villa de Forjães: “et accepimus de vobis aliam hereditatem in villa Froganes” (Liber Fidei, doc. 383). Já sancta marina vem expressamente citada como sendo a igreja de Santa Marinha nas margens do Rio Neiva: “in ripa Neive ecclesia vocabulo sancta marina” (Dipl. et Chart. doc. CCCCXX).
Obviamente que foram estas duas villae-ecclesiae que lideraram o processo que conduziu à formação da paróquia de sancta marina de Frogiaes. A primeira, sendo a mais antiga, estava melhor estruturada e possuía já patrono e igreja no ponto mais central daquele espaço geográfico. A segunda tinha um potencial agro-pecuário significativo e por isso mesmo capaz de ajudar a consolidação de estruturas comunitárias que teriam, como as demais do aro minhoto, de contribuir para as rendas da coroa e da diocese.
E portanto legítimo, embora não haja documentos comprovativos, admitir-se estar já em finais do século XII, terminado o processo. Foi por esta altura, em 1196, que D. Sancho I coutou uma parte da paróquia de Santa Marinha de Forjães a Gonçalo Mendes, juiz da Terra de Neiva. O coutamento, segundo os usos e costumes da época, declarava inimigos do rei os prevaricadores do benefício com uma multa de 50 sólidos. (…)
O couto de Santa Marinha correspondeu, em princípio, ao território da antiga villa-ecclesia sancta marina, facto que equivale a dizer que, grosso modo, correspondia aos actuais lugares da Igreja, Pregais e Freiria. (…)
Não sabemos o tempo que durou o coutamento da igreja de Santa Marinha, mas o mais provável, é que o mesmo se tenha extinguido com morte do seu titular, pela simples razão que o não encontrámos mencionado nas Inquirições, ao contrário do que sucede com os vizinhos coutos de Fragoso, Alvarães, S. Romão de Neiva, Mazarefes e Banho (Vila Cova) (8) (…) e de S. Romão de Neiva, ainda hoje com recordações toponímicas que fazem lembrar a sua anterior existência (9).(…)
Pelas Inquirições de 1220, sabemos que na freguesia havia 19 casais pertencentes à paróquia, à Ordem do Hospital e aos conventos de Palme e de S. Romão de Neiva (PMH, Inq. 1258). Tratando-se de casais. isto e de micro-lugares de povoamento (Sampaio, 1979, 72; Almeida,l 1978, 43), quase sempre propriedades dispersas pela freguesia (Gonçalves, 1981, 60-72) torna-se difícil precisar a sua extensão e muito menos o sítio onde se situava a casa de lavoura que encabeçava o sistema (Fonseca, 1936,164-165). Para além destas propriedades que pertenciam ao poder eclesiástico e que por isso mesmo estavam libertas do pagamento de foros, outras havia de maior ou menor dimensão, mas que pertenciam a particulares.(…)
Em 1258, as herdades (12) assinaladas, à excepção de uma, pertenciam todas a particulares. A localização de cada uma, é que é diversa, já que se distribuíam por sítios tão diferentes da freguesia como Pineiro (Pinheiro-Cerqueiral), Forgiães (Souto-Aldeia), Vigidi (Vegjde-lgreja), Sancta Marina (lgreja-Pregais), Ramaldi (Ramalde) e Gulpeleiras, um topónimo que desconhecemos no actual quadro toponímico da freguesia.
A inquirição seguinte, a de D. Dinis, pouco mais vem a acrecentar ao quadro já conhecido. As novidades revêm-se nos dois novos proprietários – Rodrigo Afonso e Martim Sardinha – no lugar de Savariz, que também despareceu do quadro microtoponímico da freguesia e sobretudo da primeira referência ao solar de Pregais (AN. T. T. 0275 – Inquirições de D. Dinis, l.8, Casa Forte, fl. 26v). (…)
Entre 1220 e 1258 o padre João Pelágio era o sacerdote que dirigia esta comunidade religiosa. Em 1220 era apelidado de Johanes Pelagie e recebia o título de capelão. Em 1258 era referido como sendo Johannes Pelaiz prelatus, possivelmente o mesmo que é mencionado nas Inquirições de D. Dinis: “Johannes Petriz Pelaiz prelatus” (AN. T. T. ,0275 – Inquirições de D. Dinis, l.8, Casa Forte, fl. 7v e 0166, 26v). (…)
A autoridade real estava representada na paróquia pelo judex, isto é, pelo juiz. Em 1258 e em 1290 o seu nome era Johannes Petri e a sua missão, independentemente de velar pelos interesses reais, era a de defender também os lavradores dos excessos dos mordomos, dos cobradores de foros dádivas. Apesar da modéstia de tais funções no quadro administrativo da época, o seu contributo não deixava de ser valioso para as populações, numa altura em que as relações com o poder se pautavam, não raras vezes, pelo nepotismo e pela extorsão (Sampaio, 1979, 142-143).
Em meados do século XIII o tecido social da freguesia era formado, em boa parte, por herdadores vilões e por herdadores reguengueiros. Uns e outros estão presentes na inquirições de 1258 e de 1290. Os primeiros tinham plena liberdade em dispor dos bens, situação que não acontecia com os segundos, sempre condicionados, porque sendo arrendatários das terras da coroa, estavam obviamente dependentes das directivas que dela emanavam.(…)
No final do Século XIII, a paróquia devidamente estruturada e já com os limites geográficos que hoje tem, será pela primeira vez apelidada de freguesia. Foi-o, em 1290, nas Inquirições do rei D. Dinis – freguisia de Sancta María de Frugiaes, Sancta Maria de Fragiaes, Sancta Maria de Frogaes e Sancta Marina de Frogães – só que com o nome do orago, por vezes, trocado. A padroeira continuava a ser a virgem e mártir Santa Marinha, oriunda de Antioquia, mas que uma lenda pretendia atribui-la a Santa Mariña de Águas Santas de Orense (Florez, 1783, 216-222) e não Nossa Senhora como pretendeu, erradamente, o redactor da mencionada Inquirição.(…)
Ultrapassada a barreira do século XIII, de acordo com o Censual do Cabido de Braga, datado de 1369-1380, a paróquia de Santa Marinha de Forjães, foi religiosamente anexada ao Convento de Palme: “He ora em neixa (anexa) ao moesteyro de Palme que he em Terra de Nevha”. De então para cá, fazer-se a história de Forjães, implicará a leitura do acervo documental daquele mosteiro.
NOTAS:
1- Só em 1835 é que a freguesia de Forjães foi incorporada no concelho de Esposende. 2 – Fonte: I.N.E. e P .D.M. de Esposende, p. 31. Na actualidade a população distribuiu-se harmonicamente por toda a vila.
3 -É esta a designação que é atribuída aos túmulos megalíticos nos concelhos de Alijó Murça e Vila Pouca de Aguiar. Na área de Barcelos – Esposende a designação mais corrente é anta, mámua e sobretudo mamuínhas.
4 – Castros da Idade do Ferro há-os em S. Lourenço de Vila Chã, Monte Crasto (Palme), Suvidade de Belinho (S. Paio de Antas), Castelo de Neiva e N. Sra do Crasto (S. Romão de Neiva).
5 – As provas da insegurança das populações ribeirinhas desta altura estão bem patentes nos abrigos amuralhados que restauraram nos desativados castros de Castelo de Neiva, de S. Lourenço (Vila Chã) e Monte Crasto de Palme. Em qualquer um deles os homens da Alta Idade Média aproveitaram as respectivas acrópoles promovendo obras defensivas das quais, a mais conhecida, porque está em escavação, é a de S. Lourenço de Vila Chã
6 – A villa de S. Paio de Antas situa-se no sítio de Sovalo-Agra do Relógio, lugar de Azevedo e vai ser integralmente destruída com a traçado da ICl. Por isso mesmo se tem procedido a sua integral escavação arqueológica.
7 – Para um melhor conhecimento dos coutos aconselhamos a consulta das seguintes obras: BARROS, H. Gama, História da Administração Publica em Portugal do século XII ao XV, 2ª ed. V. I, Lisboa, 1945, p.433-440; MÊREA, Paulo, História de Portugal, V. II, Barcelos, 1929; CAETANO, Marcelo, Lições de História do Direito Português, Coimbra, 1962, p.85.
8 -É normal ouvir-se dizer ainda – vou ao couto – a quem se desloca a Barroselas, a antiga freguesia de Capareiros.
9 -FONSECA, Teotónio da, Espozende e a seu concelho, Espozende, 1936, p. 164-165 por deficiente interpretação da documentação medieval, dá uma imagem errada do número de casais existentes na altura em Forjães. Estes eram em bem menor número que aqueles que o autor apresenta. Possíveis reminiscências toponímicas relacionadas com os casais de então são o campo do Casal em Pregais e o extinto lugar de Casaínhos. 10 – Para VITERBO, Frei Joaquim de Santa Rosa de, op. cit., p3o9-312, herdade, naquela altura, não era mais que um casal, prédio rústico ou granja.
11 – São vários os topónimos que se referem à presença de carvalhos no aro da freguesia: Citem-se, por exemplo, o lugar do Cerqueiral, o Carvalhal e os vários soutos.
In ALMEIDA, Carlos A. Brochado
(extraído de)
Santa Marinha de Forjães, Memórias de uma Paróquia do Minho, p.11 a 28
Forjães, Novembro, 2001